Quando começamos a sentir dor num determinado lugar, simplesmente “deixar andar” não é uma boa alternativa. Há uma reflexão que deve ser feita e algumas atitudes que deveriam ser tomadas.
Em primeiro lugar, é necessário perceber se se trata de uma situação aguda ou crónica, ou seja, se a dor se deve a uma lesão ou a um trauma/traumatismo que acabou de acontecer e do qual nos lembramos (quando, como, ao fazer o quê, de que forma); ou se, por outro lado, a dor surgiu de forma súbita, sem nenhuma razão aparente (pelo menos no momento), mas devido a alguns fatores pré-existentes.
Ao fazer esta análise, poderá compreender melhor de que tipo de dor se trata (assunto apresentado anteriormente em “Porque temos dor”) e ter uma atitude de resposta mais adequada.
Ao tratar-se de uma situação aguda, de algo que aconteceu ou algo que fizemos recentemente e que provocou a dor, como, por exemplo, uma pancada, um encontrão, um esforço fora do comum, um movimento que não estamos habituados a realizar, um “mau jeito”, ou mesmo uma lesão (como um entorse, uma luxação, uma rutura), podemos deduzir com quase total certeza que estamos perante uma dor resultante de um processo inflamatório. É importante compreender que essa resposta inflamatória é normal e é mesmo necessária. Ela terá a duração média de 2 a 3 dias (dependendo da gravidade do trauma e da própria lesão).
Se se tratar de uma lesão visível, como um entorse ou uma rutura, existem normalmente sinais que acompanham a inflamação (como o inchaço, a cor azulada ou vermelha, calor na região afetada). Nestes casos, é importante interromper qualquer atividade que se esteja a realizar, se possível colocar gelo (envolto numa toalha ou pano humedecido), de preferência colocar alguma forma de contenção como uma ligadura e procurar um profissional de saúde para que adote e o aconselhe acerca das medidas adequadas ao tratamento dessa lesão.
Caso a lesão não seja visível e não estejam presentes os sinais inflamatórios anteriormente mencionados, o ideal será de qualquer forma recorrer às mesmas medidas referidas acima, como o gelo, contenção e repouso. O repouso não se trata de um repouso absoluto, na cama. Trata-se, antes, de um repouso seletivo, ou seja, uma interrupção ou evitamento dos esforços físicos e sobretudo dos movimentos ou atividades que fazem a dor aparecer ou aumentar. Caso a dor interfira demasiado com a sua qualidade de vida (impede-o de dormir, incomoda demasiado nos movimentos básicos do dia a dia, está muito intensa), a toma de um anti-inflamatório pode ser útil.
De notar que a toma de um anti-inflamatório tem apenas a ver com o impacto da dor na qualidade de vida do paciente. Não se procura fazer desaparecer completamente a dor, porque já vimos que ela é protetora (em “Porque temos Dor”), e não se pretende eliminar completamente a inflamação, uma vez que esta é uma resposta natural do nosso organismo e tem a sua função igualmente. Poderíamos dizer que o objetivo será mais de controlar a inflamação e as suas consequências na nossa vida.
Como referido, a inflamação deverá diminuir, assim como a dor, ao fim de 3 dias. Pode eventualmente chegar a 5 dias, dependendo das situações.
Na grande maioria dos casos, procurar um médico para uma dor que surgiu há menos de 5 dias, não será algo que se justifique. Se conhecer a sua dor, e o funcionamento do seu corpo, saberá que é normal a dor estar presente nesse período de tempo, no caso de ter acontecido um trauma/traumatismo. A procura do médico será necessária para a prescrição do anti-inflamatório ou na eventualidade de os sinais e sintomas piorarem nesse período de tempo. Por exemplo, o inchaço pode aumentar sem razão aparente, a dor tornar-se insuportável, a região afetada ficar muito quente ou vermelha, etc.
Se se tratar de uma situação crónica, e a dor surge inesperadamente sem ter havido um elemento que a provocasse nos dias imediatamente anteriores ao seu surgimento, pode ainda tratar-se de uma dor relacionada com um processo inflamatório, o qual se desencadeou com o passar do tempo devido a fatores repetidos de má postura, movimentos repetidos, sobrecarga, acumulação de stress, etc.
Nestes casos, o gelo, a contenção e o repouso seletivo mantém-se como atitudes válidas numa primeira fase, assim como a medicação de analgesia em SOS.
Se, após cerca de 5 dias, a dor persistir, é aconselhável procurar um profissional de saúde, como um fisioterapeuta, osteopata, quiroprata, etc. Estes profissionais de saúde vão analisar o corpo como um todo, e procurar identificar os fatores que contribuem para a persistência da dor, assim como os fatores que estarão na própria origem da dor.
É necessário algum tempo, por vezes, até se conseguir identificar a hipótese correta e conseguir agir sobre todos os elementos (músculos, articulações, postura) afetados pelo que causou a dor. No entanto, optando por esta via, o resultado será mais realista e o tratamento mais efetivo, ou seja, uma correção duradoura, e não apenas um alívio passageiro. O tratamento passará quase sempre pelos alongamentos, exercícios específicos, atividade física, técnicas de relaxamento muscular, apoio emocional.
Mais uma vez, procurar um médico logo numa primeira instância será expor-se a filas, tempos de espera, prescrição de medicamentos não específicos para o verdadeiro problema, persistência da dor e dos elementos causadores da mesma por mais tempo, e na maioria das vezes, marcação e realização de exames complementares de diagnóstico por etapas, que o vão expor a radiações e que vão provavelmente identificar várias alterações de desgaste em algumas estruturas do seu corpo, as quais muito possivelmente já estavam presentes há bastante tempo e que nem sempre são a causa exata que explica o surgimento da dor.
Quero reforçar que a procura de um médico nunca será desaconselhada, ela é extremamente importante dentro do seu contexto. Esta deve ser uma escolha feita com consciência. Por isso, partilho estas informações, pois quanto melhor conhecermos o nosso corpo, melhor saberemos trabalhar com ele.
No caso da dor crónica (presente há mais de 3 meses), é importante fazer de tudo para evitar que ela se desenvolva. Isto é, antes de surgir uma dor crónica, o ideal é tratar de forma correta e atempada cada uma das nossas dores, de forma a que não se tornem crónicas. Caso, ainda assim, a dor persista, a abordagem de tratamento será mais complexa e merece que se explique com maior detalhe num próximo artigo.
Fisioterapeuta Ágata Melo